EXTRA! EXTRA!!! O fim do mundo veio por decreto!
Pelo menos foi o que nós, professoras do ensino fundamental de Itaboraí, experimentamos no último dia 12. Resumo da ópera: “A Secretária de Educação fazendo uso de suas atribuições decreta a instituição da aprovação imediata dos alunos do primeiro ano do ensino fundamental… blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá... Este decreto entra em vigor na data de sua publicação”!
BUUUUUUUUUUUUM!!!!!!!
Implodiram os pilares que sustentavam a palafita na qual os alunos do ensino público de nossa cidade se sustentavam... E vamos todos caçar caranguejos, carregar tijolos e nos transformar em laranjas... Afinal já fazemos isto desde que os jesuítas entraram pelo rio Macacu e catequizaram os índios e lhes ensinando o pecado... Fazemos isto desde os tempos em que nosso solo massapé passou a produzir cana-de-açúcar e precisou do braço escravo... Negros trazidos da África mortos pela chibata e pelo banzo... Sempre fizemos isto desde os tempos em que a fidalguia portuguesa descobriu que aqui se produzia laranjas e trouxe do nordeste os desvalidos da seca da grande seca de 1877... Os que ficaram por lá fundaram Canudos e morreram ao lado de Antônio Conselheiro e os que aqui ficaram até hoje tem sede de justiça... Sempre fomos catadores de caranguejos... O que este povo está pensando? O dinheiro da Petrobrás é nosso. Arra! Urru! Não vamos destruir a nossa tradição de oprimir os desvalidos... Se reclamarem a gente chama o Gabriel Chalita e ele faz uma linda palestra sobre o amor à educação e faz todo mundo chorar... O importante é que o dinheiro da Petrobrás é nosso. Arra! Urru!
A educação pública não pode ser de qualidade afinal quem, com o mínimo de discernimento vai votar no mais do mesmo? Como é que vamos mudar a história se tudo está tão arrumadinho... Se não existirem os analfabetos funcionais como vão funcionar nossas redes de dominação? Quem é que vai querer vender seu voto por um milheiro de tijolos que ele mesmo produziu, mas não tem dinheiro pra comprar e não consegue entender que é ele o produtor das riquezas? Como ficarão nossas casas sem empregadas domésticas? Como prosperarão as seitas pentecostalistas com sua absurda teologia da prosperidade? Uma educação de qualidade desqualifica o individuo para o nosso sistema de dominação....
Mas quem disse que bastava proibir a avaliação dos alunos. Ainda teve mais... Dois dias, exatamente diferença de dias que separaram as tragédias de Hiroshima e Nangassaque, fomos surpreendidas com mais uma bomba.
BUUUUUUUUUUUUM!!!!!!!
E o que vamos fazer? Aceitar prontamente a tapa na cara e oferecer a outra face? Vamos nos recolher e chorar amargamente ao som de “Meu Mundo Caiu” da Maysa? Vamos ficar reclamando, reclamando, reclamando como um disco velho e riscado ou vamos tomar uma atitude?
Uma amiga ficou tão desesperada que resolveu virar garota de programa, mas depois mudou de idéia porque a idade média das garotas de programa equivale à metade do que ela tem de sala de aula... Mas e aí o que vamos fazer?
Josefina nos brinda com dois textos de extrema argúcia, mordaz humor e profunda sensibilidade cujo o reconhecimento de cada um de nós se dá não nos detalhes, mas no âmago desta crônica que só mesmo aqueles que se movimentam e, com isso, sentem as amarras que nos prendem (parafraseando Rosa Luxemburgo) podem nos dar. E cá fica um voto: só espero que nossas vitória não te desestimulem a escrever, nobre companheira!
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