21 de setembro de 2010

PROFESSORES SEM TEMPO PARA TER TEMPO.

Qual o nosso tempo para poder amar? Curtir a família? Ler um bom livro? Pesquisar e melhorar nossa formação? Simples: da meia noite às cinco da manhã! Esse é o nosso tempo. Mas, e dormir? Dormir é coisa de burguês desocupado. Talvez o ideal seria contratar professores-robôs, são mais eficientes, não dormem, não têm família, nem sequer precisam de casa, alimentam-se a base de bateria, nada de dívida com supermercado, nem de vale coxinha de 4 reias (preço do vale alimentação pago pelo o Estado aos professores; hoje, esse valor não compra uma coxinha de boteco com um refrigerante). Professor-robô não tira licença saúde, licença prêmio, licença nojo. Ao invés de oito aulas por dia, poderia dar dezoito horas aulas. Esse tipo de professor seria o ideal para nossos pensadores da educação, pois o custo seria mínimo. Com a vantagem de ser programado para nunca fazer greve, mas nosso grau de desenvolvimento tecnológico não nos permite chegar a esse nível de otimização de produção educacional. Para infelicidade dos nossos administrados ainda há um empecilho: eles ainda precisam de nós, professores. Que droga, devem refletir em silêncio dentro de suas salas ventiladas e vazias ou no máximo com um ou dois assessores, bem diferente daquelas que vivenciamos todos os dias. Como não têm as máquinas para ministrar as aulas, infelizmente, só há professores, o ideal, então, é submetê-los a lógica das máquinas, do discurso dos índices, da otimização da produção, da exigência máxima com condições mínimas de humanidade. Ser professor, para os burocratas da educação é exigir de gente algo de coisa, é fazer seres se tornar máquina. Máquina, não. Engrenagem. Suprime-se o direito do professor ser alguém, com identidade e humanidade. Robotiza-o, para lhe tirar o direito ao pensar e se construir. Para nós, seres humanos, não há sala de aula em si. O nosso ambiente familiar quando vivido intensamente aumenta o prazer pelo trabalho. O fazer amor também se reflete na nossa postura para encararmos o trabalho. Um serão desinteressado com nossos pais numa tarde de domingo será a base para uma boa explicação sobre a Revolução Industrial, na segunda, para o Oitavo Ano. Permitir nossa existência, com tempo e salário digno, não seria a melhor pedagogia em sala de aula? Mas por anos de arrocho salarial, nós, profissionais do magistério, temos jornada dupla ou tripla de trabalho, somos relegados para semanas sem fins de semanas, rotina de 14 horas de trabalho em 7 eternos dias. Tudo isso numa tentativa de humanizarmos o salário a custa de uma desumanização das várias dimensões da nossa existência. Vivemos norteados pela política educacional do “des”, nos deserotizamos, “desintelectualizamos”, “desfilhosralizamos”, “desamamos”, e, por fim, sem neologismo: deseducamos a nós mesmos, por desiludirmos com a profissão e a perspectiva fornecida por ela. O que se desdobra na seguinte pergunta: “O que estamos fazendo da nossa vida? Ou subvida?”. Toda essa opinião foi através de uma conversa via um artigo no Blog da Ieda(http://www.yscuot.blogspot.com/), uma amiga, casada, com um amigo meu, que, hoje, devido nossa rotina, só temos algo em comum: não nos vemos mais. No artigo a Ieda reclama da falta de tempo para curtir a filha e o marido (meu grande amigo) o que certamente empobrece a vida dela e as aulas que virão nos dias seguintes. A Ieda tem uma filhinha, maravilhosa, inteligente e como toda criança sadia exige atenção, brincar, correr, fazer perguntas mirabolantes à mãe e ao pai. Mas como todo professor sadio a Ieda vive uma rotina insana; insanidade por, muitas vezes, ser obrigada, a não ficar com quem ama. Sadia por trabalhar para tentar oferecer uma vida digna aos seus. Digna é a tentativa, mas seria digna a política educacional e salarial que obriga a levar essa vida? Parece que nossos pensadores oficiais da educação querem que os professores façam amor com os diários de classe, vão ao cinema com os trabalhos escolares e tomem café da manhã, almocem e jantem no domingo com as provas, por corrigir... que quicopró!


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